Parte 1
Seus olhos doeram ao vê-lo. Ou melhor, todo o seu corpo se contorceu em dor.
Felicity pensou que era seu coração que deveria estar partido, não cada pedacinho dela. E, no entanto, suas mãos formigavam desejando fazer contato, suas bochechas ficaram vermelhas pelo que eles fizeram juntos. E não eram borboletas em seu estômago, mas aquelas mariposas carnívoras que se alimentam de carniça, destruindo o que restava dela.
Ela segurou os livros mais perto do peito, como um salva-vidas ou um escudo. Ela engoliu em seco enquanto esperava que ele a notasse quando passou por ele no corredor. Ela prendeu a respiração quando ele virou a cabeça, seus olhares se encontraram e ele deu um meio sorriso.
– Ei. – Seu tom era educado, havia alguma culpa nisso ou era apenas sua imaginação esperançosa?
– Ei, – ela conseguiu cumprimentá-lo de volta.
Bem, pelo menos ela não começou a chorar, ela pensou enquanto se afastava. Afinal, ela era a única que sabia o quanto doía por dentro.
O sinal tocou, então Felicity seguiu seus colegas para aula de inglês, onde eles estavam lendo O Conde de Monte Cristo. Antes de ontem, Felicity não conseguia entender como alguém poderia planejar uma vingança assim. Ela ainda não gostava da ideia de conspirar contra alguém, mas agora sabia como era a dor de verdade, entendia como o sentimento poderia mudar a visão de mundo de uma pessoa, distorcer sua moral.
– Você está bem? – Sua amiga Maggie abraçou-a quando a aula acabou e elas se encontraram no corredor. – Aquele bastardo! Não consigo acreditar que ele terminou com você assim, depois de tudo que você fez por ele.
Felicity não estava pronta para falar sobre isso, então ela apenas se deixou ser segurada por sua melhor amiga, desejando que os braços da garota fossem fortes o suficiente para manter suas partes juntas. Eles não eram, ela podia sentir-se derretendo, desmoronando.
– Venha para minha casa depois da escola. Vamos tomar sorvete e amaldiçoar o dia em que Aaron Gellar nasceu, – disse Maggie.
Foi o que ela fez, mas todo o sorvete do mundo não poderia mudar o fato de que Felicity havia perdido o amor de sua vida.
No dia seguinte, ela estava se sentindo um pouco melhor ou, pelo menos, sentia-se mais preparada para enfrentar mais um dia de aula.
No entanto, o Universo tinha um senso de humor sombrio e, a primeira coisa que ela viu quando estacionou foi um casal se pegando no carro na frente dela. Qualquer outro dia, isso não significaria nada, afinal Felicity tinha seu próprio homem para beijar e, bem, você sabe. Naquele dia, porém, ela teve que se conter para não buzinar e assustar o feliz casal.
A mão de Felicity pairou sobre o volante quando ela percebeu que conhecia aquele carro. Ela sabia como era o assento de couro embaixo dela, ela sabia como o freio de mão sempre atrapalhava uma boa sessão de amassos.
Ela deixou seu próprio veículo, não mais com dor. Na verdade, Felicity não sentia mais nada. Algum médico maluco poderia ter se infiltrado e enchido ela com anestesia para tudo que ela se importava.
Em sua aula de inglês, ela prestou muita atenção ao que seu professor dizia. Ela sabia que não tinha a paciência do Conde, então, em Química, começou a elaborar um plano muito mais rápido.
– Maggie, até onde você iria para me ajudar? – Felicity perguntou na hora do almoço.
– Você sabe que eu faria qualquer coisa, – Maggie respondeu imediatamente.
Um sorriso perverso cruzou o rosto de Felicity.
– Ótimo. Encontre-me no laboratório de química depois da aula.
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