Mãos
- Julia Roscoe
- 21 de jul.
- 1 min de leitura

Eu não sabia que duas das coisas mais comuns poderiam ser tão incríveis. Eu não sabia que prestaria tanta atenção nelas, veria-as crescer e adquirir movimentos precisos. Suponho que seja assim só porque são suas.
Há dez meses, eu as vi pela primeira vez. Pretas e brancas, dois braços, duas pernas. Você se tornou real, não era apenas as duas linhas no palito. Então, há mais de três meses, eu as vi pessoalmente. Elas se contorciam em direção ao seu rosto choroso, enrugadas e minúsculas. Elas agarraram meus dedos com firmeza e de forma automática enquanto você tentava entender seu entorno.
As dobrinhas, os dedos longos, as unhas afiadas e sempre crescendo... Eu me apaixonei instantaneamente.
Eu as seguro sempre que posso. Quando estamos andando de carro e você precisa de apoio moral. Quando você as chupa repetidamente com a boca. Quando você as enrosca no meu cabelo. Quando você mesma se acorda com seus movimentos desgovernados. Quando você tenta segurar sua própria mamadeira, mas acidentalmente a empurra para longe. Quando preciso saber que você é real, você é meu sonho realizado.
As mãos humanas são muito peculiares. Desenvolvemos os famosos polegares opositores, que nos permitem manipular objetos e usá-los como ferramentas. Como isso aconteceu há tanto tempo, damos pouca ou nenhuma importância a elas. Com suas mãos, no entanto, posso apreciar a evolução e observar seu desenvolvimento, de primeira mão (!).
O reflexo de segurar se transformou em um aperto deliberado. E, de repente, aquelas mãos úmidas que abrigavam cada fiapo em seu caminho, agora estão abertas, prontas para pegar o que estiver à sua frente e guiar até a sua boca exploradora.
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