Rex não era um rato normal, e não porque tinha um nome mais adequado para um cachorro. Não, Rex era um visionário.
Ele cresceu ouvindo as histórias de seu primo de terceiro grau, aquele que ficou famoso por sua culinária e agora tinha um restaurante em Paris. Para Rex, isso provava que não havia nada que os ratos não pudessem fazer. Então, quando o avô de Rex faleceu depois de comer uma uva passa duvidosa, o jovem Rex começou seus estudos.
No começo, foi difícil. Afinal, ratos normalmente não são criaturas acadêmicas. Mas Rex estava determinado a descobrir as verdades por trás do aumento da taxa de mortalidade de ratos. A biblioteca da cidade foi seu primeiro recurso, e rapidamente Rex leu todos os livros que havia para saber sobre sua própria espécie.
Depois de superar o choque de descobrir que aquelas passas não eram uvas secas e que a razão de sua cabeça doer quando ele às vezes entrava em alguns lugares era devido a um equipamento na tomada, Rex estava pronto para agir.
Sua raiva o impulsionou em sua busca, mais do que o desejo de salvar futuros roedores. Ele queria ferir as criaturas perversas que tinham feito tais armadilhas e armas maléficas. Evidentemente, seus pais o haviam alertado sobre os humanos, sobre como era perigoso entrar em uma de suas residências. Mas descobrir que as chamadas espécies evoluídas eram responsáveis pelo assassinato de milhões de ratos e camundongos enfureceu Rex.
O que ele e sua grande família já tinham feito contra as pessoas? Além de um susto ocasional na cozinha no meio da noite – que também assustava os pobres ratos – não havia nada que a espécie de Rex pudesse fazer contra os humanos. Não era como se eles propositadamente espalhassem doenças contagiosas e letais…
Para a próxima parte de seu plano, Rex teve que aprender o máximo que podia sobre explosivos. Afinal, apenas algo grande poderia destruir criaturas tão altas e espaçosas.
Sua mãe estava preocupada com ele, não gostava de ver seu 19º filho tomado por emoções tão sombrias. O pai de Rex, por outro lado, achava que era uma perda de tempo e inteligência – ambos que poderiam ser melhor gastos procurando comida e abrigo.
Rex não se importava, ele estava acostumado a ser o estranho. Chegou a pensar em pedir ajuda ao primo de terceiro grau, mas não havia tempo. Ele precisava vingar seu avô morto, que havia sido encontrado com os intestinos saindo pela boca, como um dos irmãos mais velhos de Rex lhe disse.
Acontece que não foi tão difícil colocar as patas em uma dinamite. Seu tio morava em uma construtora e eles haviam acabado de receber um novo lote das bananas mortais. Foram necessários vários ratos para mover a dinamite de seu armazenamento para o escritório principal da construtora.
Agora, tudo o que Rex tinha que fazer era esperar que os humanos chegassem de manhã para trabalhar.
Quando os primeiros raios de sol apareceram no horizonte, Rex não estava sozinho. A notícia de que este rato jovem e audacioso estava tentando se vingar da humanidade havia se espalhado e todos os ratos que haviam perdido um parente para as passas ruins ou armadilhas traiçoeiras vieram assistir ao show.
Rex estava emocionado. Ele se sentiu validado; ele agora poderia finalmente provar que suas horas na biblioteca não foram em vão.
Eles estavam escondidos em um armário de limpeza, longe de onde os funcionários trabalhavam no escritório. Havia centenas de amigos, primos e desconhecidos de Rex torcendo pelo iminente ato de vingança – ou melhor, de justiça. Rex tinha o pavio pronto para ser aceso.
No meio de toda aquela agitação, porém, os ratos não ouviram quando o zelador destrancou a porta e entrou no escritório, assobiando uma música sertaneja com um cigarro na boca.
Quando a porta do armário de limpeza se abriu, os ratos entraram em pânico. Eles esqueceram toda a bravura de momentos atrás e correram o mais longe possível do predador.
O zelador, chocado com as pragas à sua frente, gritou como uma garotinha, deixando cair o cigarro aceso no processo. Ele fugiu na direção oposta de onde os ratos estavam indo.
A ponta do cigarro caiu no chão, bem ao lado do pavio de dinamite. Uma pequena chama brilhou e o fogo percorreu a longa corda, chegando rapidamente ao fim.
A explosão foi muito maior do que Rex havia imaginado – e não apenas porque ele estava perto dela. Infelizmente, Rex não conseguiu admirar seu trabalho por muito mais tempo, pois o golpe chegou no raio de distância onde Rex e todos os outros ratos estavam.
E esse foi o resultado do primeiro ataque dos roedores contra humanos, mas não o último.
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