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Foto do escritorJulia Roscoe

Água


A água é fluida. Ela dá vida. Ela tira vida.

A água esteve aqui toda a minha vida, mas só agora posso vê-la verdadeiramente.

Como virginiana, tenho mais inclinação para o elemento da terra, sentindo-me melhor cercada por árvores e livros do que em qualquer outro lugar.

E essa tem sido eu: uma pessoa prática, guiada pelas minhas próprias regras e valores, mas incapaz de seguir o fluxo. De me adaptar com facilidade.

De repente, veio a água.

Começou durante um ataque de pânico. Eu estava me sentindo sobrecarregada com meus próprios planos dando errado devido a forças externas, e a pressão que eu havia criado era demais para suportar. Até que um pensamento veio à minha mente e conseguiu me acalmar um pouco: me imaginei na água. Em um grande lago, em água fria e escura. Meu corpo flutuava de acordo com a corrente, não afundando, apenas flutuando sob a superfície.

Ali era calmo, era tranquilo. Eu podia sentir o frio e a umidade na minha pele. O movimento da corrente. Não ouvia nada e não via nada. O toque era tudo o que me restava. E era tudo que eu precisava.

Esse cenário, por mais estranho que seja, tem sido um poderoso aliado para quando sinto que estou prestes a perder a cabeça.

É um paradoxo, no entanto. Pois a ideia de não respirar me dá calafrios, de um jeito ruim. É por isso que aqueles exercícios de respiração para relaxar acabam só me estressando mais.

Mas com a água, eu consigo relaxar.

Depois disso, fui à praia pela primeira vez em anos. Como eu disse, estou ligada à terra, então naturalmente eu escolho lugares de férias relacionados às montanhas ou à metrópole.

A viagem à praia foi curta. Em um impulso, dirigi por 17 horas com meu namorado e uma amiga para visitar uma outra amiga que mora em uma cidade aconchegante à beira-mar no Brasil. Só podíamos ficar lá por cinco dias. Mas no segundo dia, um problema de pele que tive nos cotovelos por meses desapareceu completamente!

Sério, por meses eu tentei vários hidratantes para tratar a irriatação nos meus cotovelos. Nada funcionou. Exceto por um dia na praia! Isso aí é remédio de verdade.

Cerca de três meses depois dessa viagem, mudei-me para Montreal, Canadá. Falando sobre grandes mudanças!

Além dos diferentes aspectos que vêm com grandes mudanças como essa, uma coisa importante mudou. Foi uma mudança tão grande que só percebi um mês depois de chegar a Montreal.

Montreal é uma ilha.

Pela primeira vez na minha vida, vivo cercada de água.

Por 25 anos, morei em uma cidade nos morros. Literalmente no morro. O nome Belo Horizonte é uma referência à vista que temos do alto da maioria dos prédios da cidade.

Então a terra teve uma grande influência na minha vida por muito tempo. E agora é hora da água assumir o controle.

Aqui em Montreal, não só estou cercada por rios, mas também há água caindo do céu durante todo o inverno: a neve.

E isso me faz pensar na minha tatuagem, um floco de neve feito a partir da foto de um floco de neve real que vi em Ottawa, na minha primeira viagem ao Canadá em 2018.

Minha tatuagem representa os momentos maravilhosos que vivi naquela viagem, mas principalmente me lembra de uma citação de um livro de J.R. Ward, que é mais ou menos assim: “Você vê a neve caindo do céu? Nada que você diga ou faça impedirá que a neve continue caindo”.

Então é isso. Algumas coisas podemos planejar e controlar, mas a maioria está além do nosso domínio de poder e só podemos aprender a jogar junto. A nos mover com o curso d'água.


P.S: durante essa instrospecção toda, teve uma música que me tocou, Her and the Sea, do The Clann.

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